POETA FRANCIS GOMES

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quarta-feira, 7 de março de 2018

A PERFEIÇÃO DA OBRA PRIMA

Francis Gomes

 O mundo sem mulheres ou
A perfeição da obra prima.

Corpo sem espírito
Espírito sem senhor
Fogo sem ter chamas
Chamas sem Calor
Abraço que não aquece
Beijo sem amor

Cabeça sem cérebro 
Corpo sem coração,
Lábios sem sorriso
Sorriso sem emoção
Olhar que não tem brilho
Sem nenhuma sedução

Flora sem ter fauna
Terra sem ter flora
Jardim que não tem flor
Flor que não aflora
Sertão sem mandacaru
Mandacaru que não fulora

Terra vazia sem nada
Como antes da criação
Sem luz, sem água
Só abismo, escuridão
Até que Deus formou tudo
E depois criou Adão

Deus fez tudo perfeito
Mas olhando lá de cima
Viu Adão meio cabisbaixo
E para levantar sua alto estima
Aprimorou sua criação
E fez a mulher para Adão
A perfeição da obra prima.


Francis Gomes

segunda-feira, 5 de março de 2018

Crítica literária do livro UM SER TÃO ENGMÁTICO



Dica de Leitura: “Um ser tão enigmático”, de Francis Gomes
(Constructo de Alba Atróz – 20 de maio de 2017)

Numa manhã fria e chuvosa, pouco antes de embarcar num transporte público caótico, ainda na fila, retirei da mochila “Um ser tão Enigmático”, obra do poeta e cordelista, mestre Francis Gomes. Como sempre, a leitura de um bom livro surgiu como um alento, tendo mesmo me distraído e aguçado minha sensibilidade por um itinerário opressivo.
Pela porta de entrada de sua poesia, virando as páginas de sua vida querida, atravessando os cômodos após o roçado, sendo hospedado num sertão, entre as cercas de mourões, entre pastos, nas estiagens e secas longas, no ofuscado momento em que sigo caminhando dando “dias” aos passantes, sentindo-me as colunas de madeira que seguram o humilde casebre às margens da pobre estradinha de terra, enquanto sorvo um “cafezin” feito por sua mãe e pai após o trabalho na roça ou fabriquetas, sou distanciado do agora, do urbano e viro piaba num rio transposto por Francis Gomes. É possível perceber que “Um ser tão enigmático” é os “Suspiros poéticos e saudades” expressado pelo eu lírico, pois aos moldes da obra clássica de Magalhães, nosso poeta atual também traz as impressões sobre lugares, fatos e figuras, embora com adendos de humor e simpatia que lhe é intrínseco, apresentando-nos suas fortes relações com o nordeste; mais especificamente sua terra natal Assaré – sobretudo, Farias Brito, Ceará, onde viveu sua infância e parte de sua adolescência que lhe trouxe marcas presentes em seu jeito de ser e de agir.
A rica tradição popular, o cômico, a charada, a corporificação do jeito nordestino, com toda sua forte imaginação para criar lendas, constituem a beleza na obra de Francis Gomes. Viajamos na leitura cheia de intertextualidades, onde o poeta, numa rica miscelânea de citações, traz a moção do corpo de um lugar para outro, em diferentes tempos ou épocas, pelo contato com a poderosa literatura. Francis é xavequeiro, é romântico, é sedutor, tem lábia para suas musas românticas, amores que o poeta exalta em passagens onde versos exortam não só a beleza de sua terra, mas os sentidos das relações íntimas, quando não familiares ou amigáveis. Nas faltas de entendimento presentes entre casais, por exemplo, o poeta nos oferece solução, trazendo flores e motes sugestivos para amenizar as temáticas “conflitantes”. Em seus poemas muito bem metrificados, preocupado com a estética e com a qualidade de seu texto, Gomes vai harmoniosamente ensinando-nos a amar, a escrever, a ler, a se apaixonar, trazendo-nos de volta a infância na rua, no grupo de amigos, no lar, nos abraços, diante dos “enigmáticos” entendimentos que a vida nos proporciona com o tempo, após um adeus, no ter que voltar querendo ficar, na dor da partida, na felicidade da volta, são ensinamentos que pesam no peito, no choro de Francis, do poeta que reconhece seu “paraíso no sertão” descrito no b-a-bá do quadro negro da singela escola, no suor do serviço de seu pai e de seus entes, no vem cá de sua mãe, na paisagem maltratada do sertão cearense, olhado por um farias britense, discípulo de Patativa, que está sempre em “guerra sintática”, por amor à arte de escrever, versos em que a gramática entra na roda e dança homenageando seu povo e suas tradições, assim como seus amigos do peito. É tudo tão rico, em tão poucas páginas, que o leitor fica querendo mais. Cheguei ao meu destino satisfeito, sem sofrer as mesmas sequelas de quando não estou lendo. Acabei, enfim, viajando à Farias Brito, vivi uma história marcante e proveitosa, convidado por “Um ser tão enigmático” chamado Francis Gomes. Boa leitura.

domingo, 4 de março de 2018

A volta da ditadura




Esta intervenção militar
Realidade triste e dura
Para quem não entendeu
O motivo desta loucura
É a continuação do golpe
E a volta da ditadura

O exercito pelas ruas
Com tanques, carros brindados
Não são para prender bandidos
Nem traficantes procurados
São capitães do mato
Um pouco mais equipados

A prova disso é que eles
Já estão articulando
Intervir outros estados
Que o tráfico está dominando
E o povo cego aplaudindo
A ditadura voltando

As favelas são senzalas
Em tempos modernizados
E nós somos os escravos
Chamados de favelados
Os senhores de engenhos
Senadores e deputados

Se fosse para prender
Bandidos em altas escalas
Intervinha a casa grande
E não pequenas senzalas.
Me diga qual o escravo
Que guarda dinheiro em malas?

Por isso ou nós lutamos
Com heroísmo e bravura
Ou lutamos como livres
Para evitar esta loucura
Ou alem de escravizados
Voltará à ditadura


Francis Gomes