Menino aos quarenta anos

 

 

Aborrecido e triste

Com o pensamento a esmo

Perguntando para mim mesmo

Porque a velhice existe.

Como a resposta não vinha

Ali mesmo na cozinha

Eu comecei a dormir

Então sonhei que o céu

Se transformava em um véu

E começava se abrir

 

Eu vi um homem saindo

Com um cajado na mão

Me apontando um telão

Por entre as nuvens surgindo

E me falou venha ver

Vou te fazer entender

Que a vida não é tolice

E foi me mostrando imagens

Das mais bonitas passagens

Desde minha meninice

 

Então eu vi as colinas

Os rios as cachoeiras

Os açudes as brincadeiras

Nas vastas e verdes campinas

Gozando em plena saúde

No vigor da juventude

Eu também vi os meus pais

Mamãe alegre cantando

E papai assobiando

Nos vastos canaviais

 

Emocionado eu chorei.

Mas ele me disse calma

Não aflija sua alma

Eu apenas comecei.

Então eu me vi criança

Mamãe com toda bonança

Me botando pra dormir

E vi papai me acordando

Me mordendo me beijando

Ouvindo pial latir

 

 

 

 

Vim minha adolescência plena

O meu tempo de escola

Eu me vi jogando bola

No campo da Madalena

Eu vi minha juventude

Aproveitei o quanto pude

Farrei muito e namorei

Vi antigos camaradas

Vi minhas ex namoradas

Até que me apaixonei

 

Me mostrou tudo que eu fiz

Da meninice a mocidade

Mas só mostrou na verdade

O quanto eu fui feliz

E o telão foi sumindo

O homem pro céu subindo

Mas me falava risonho

Nunca perca a esperança

Não deixe de ser criança

Acorde foi só um sonho

 

E quando eu despertei

Pra minha realidade

Então eu vi na verdade

Que eu realmente sonhei

Mas mesmo tendo sonhado

Que fui feliz no passado

Foi sonho mas foi verdade

E neste sonho divino

Eu voltei a ser menino

Aos quarenta anos de idade.

 

Francis Gomes