POETA FRANCIS GOMES

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quarta-feira, 4 de junho de 2014

UMA PITADA DO CORDEL OS GÊMEOS

Os gêmeos

Meu avô era homem simples
Caipira, matuto honesto,
Sem tino para os estudos
Ele era analfabeto
Mas para contar historia
Tinha excelente memória
Era um artista completo

E no vai e vem da vida
Vai não vai às vezes vou
Lá no baú das histórias
Que meu avô me contou
Ligo o play que está parado
E trago lá do passado
Relíquias que me deixou

Por isso meu caro amigo
Eu chamo a sua atenção
A história que vou contar
Não é de minha invenção
É mais uma que me contou
E segundo ele  passou
No interior do sertão

Tem coisa que a ciência
Não consegue explicar
Deus sabe, mas não explica,
E a gente tem que aceitar
Dois seres tão diferente
Um medroso outro valente
Sair do mesmo lugar

Segundo vovô contou
Foi assim que aconteceu
Filhos do mesmo pai
A mesma mãe concebeu
Como Isaú e Jacó
Iran pra não sair só
Nasceu puxando Irineu

Um saiu quase berrando.
O outro bem melindroso.
O Iran nasceu taludo
Forte, bravo, corajoso,
Um menino magnífico.
Já Irineu um raquítico
Pálido, magrelo e medroso.

 Assim foi passando o tempo
Os dois meninos crescendo
Um correndo para as brigas
Outro das brigas correndo
Iran forte e corajoso
Já Irineu tão medroso
Que vivia se escondendo

Iran tornou-se um cabra
De dois metros de altura
As pernas era dois troncos
Os braços desta grossura
Ninguém brigava com ele
Quem levasse um tapa dele
Encomendava  à sepultura.

No dia que se invocava
E ficava embriagado
Mandava prender o padre
Batia no delegado
Festa, missa casamento,
Só acontecia o evento
Se ele fosse convidado
  
Até mesmo um feiticeiro
Pra fazer  feitiçaria
Iran tinha  que deixar
Se não ele não fazia
Coitado do que teimasse
Menino se Iran pegasse
A chibatada comia

Teve um feiticeiro velho
Todo  cheio de mandinga
Que disse no meu baralho
Eu sou a carta curinga
Quero ver qual é o macho
Que vem mexer no meu tacho
E quebrar minha moringa

Eu encanto e desencanto
Faço o nó depois desato
Deixo viver quem eu quero
Mas se quiser também mato
Ninguém mexe em minha tumba
Se eu quiser fazer macumba
Faço de galinha pato

 Quando Iran ficou sabendo
Ficou muito indignado
Mandou fazer um chicote
De couro cru enrolado
E disse catimbozeiro
Macumbeiro feiticeiro
Seu feitiço tá quebrado

Numa sexta feira à noite
Tava aquela gritaria
No terreiro de macumba
Santo descia e subia
Iran disse: mato ou morro
Porque correr eu não corro,
Do pai de santo ou do guia

Deu de cabo do chicote
De couro cru enrolado
E partiu para o terreiro
Como quem tava endiabado
Já chegou descendo a lenha
Em velho e mulher prenha
Homem solteiro e casado

 E foi aquela algazarra
Gente correndo e gritando
O pai de santo que estava
Com um guia manifestando
Na primeira chibatada
O guia falou qual nada
Eu  vou é me retirando

O pobre do pai de santo
Não desatou este nó
Os seguidores e o guia
Deixaram ele apanhar só
E pra aumentar a desgraça
Iran bebeu a cachaça
Dele fazer catimbó

Já Irineu o coitado
Sempre foi muito mofino
Cresceu mas não mudou nada
 Magro do pescoço fino
Os braços eram dois palitos
As pernas só os cambitos
E um nariz de suíno

 Tinha medo de tudo
Que se possa imaginar
Cobra, rato, aranha,
Barata então nem pensar,
Fazia uma esparrela
Pulava feito gazela
E começava chorar

Não dormia no escuro
Com medo de assombração
Não entrava em cemitério
Nem segurava em caixão
Não podia ver um morto
Que a peste olhava torto

E se esborrachava no chão....

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