O Casamento de
Marizete
Minha filha Marizete
Infucou de se casar
Com o menino mais novo
Do compade Baltazar
Eu falei que não
aceito
Pois a peste do
sujeito
Não gosta de trabalhar
Vive pra cima e pra
baixo
Só fazendo trapaiada
De bermudão e chinelo
Nunca deu um nó em
nada
Ela não ouviu os pais
O povo fala de mais
E agora ta mau falada.
Fui obrigado aceitar
Pra num arrumar
intriga
O povo tava falando:
Quer ser santo Deus
castiga
Quer ser muito sendo
pouco
A santinha do pau ouco
Agora ta de barriga.
Ela e ele negava
Mas a gente desconfia
Pois todo pai e a mãe
Conhece bem sua cria
E se não desata o nó
Para evitar o pior
Aceita o que não
queria
No dia do casamento
Era aquele falatório.
Uns diziam: ta
buchuda.
Outros falavam: é
notório.
Não é pra fazer
intriga
Mas se não fosse à
barriga
Não teria este casório
O padre disse:
silêncio
Controlem os intentos
seus
Se não respeitam os
noivos
Respeitem a casa de
Deus
Dê aos filhos bom
exemplo
Falando assim no
templo
Parecem os fariseus.
O pai e mãe choravam
Na hora da cerimônia.
Mas a língua do povo
É uma coisa medonha.
Uns falavam: é de
alegria.
Mas outra parte dizia:
Imagina, de vergonha.
O padre falou: meus
filhos
Que falatório medonho
Se não for pedir de
mais
Para vocês eu proponho
Respeitem o casamento
Pois os dois neste
momento
Se unem em matrimônio.
O padre viu que não ia
Calar a boca do povo
Se viu tão aperreado
Como quem pisando em
ovo
Querendo se adiantar
Esqueceu de perguntar
Se a noiva aceitava o
noivo
Mas a noiva foi
esperta
E na mesma ocasião
Falou logo: eu aceito.
Mas o noivo disse: eu
não
A confusão foi na hora
E pai disse é agora,
Que eu mato este fi do
cão.
A noiva aperreada
Falou papai me ajuda
Pois este cabra safado
Ta mais parecendo um
Juda
Eu não ia nem falar
Mas agora vou
confessar
Eu estou mermo
buchuda.
A igreja veio a baixo
Foi grande o fuzuê
Desmaiou a mãe da
noiva
E o noivo quis correr
O pai pra lavar a
honra
Minha filha ninguém
desonra
Ou casa ou vai morrer
Até os familiares
Pai e mãe do infeliz
De medo saíram
correndo
Assombramento não quis
Mas o padre agoniado
Declarou os dois
casados
E fugiu da igreja
matriz
E depois dos dois
casados
Depois que amarraram o
nó
Todos foram comemorar
Na palhoça Bodocó
Com Toto mudo feliz
Até os pais do infeliz
Apareceu no forró.
Francis Gomes
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